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sábado, 29 de novembro de 2014

Sonho.


Era uma noite fria, a lua cheia brilhava, lançando estreitos filetes de luz por entre as falhas do telhado, não havia muito, paredes de pedra de um quarto quase vazio, uma cama com dossel empoeirada, uma penteadeira de madeira escurecida pelo tempo, com o espelho quebrado, eu o olhava, mas o reflexo que se desvanecia sobe as camadas de pó, não passava de uma sombra, um vulto, o vento soprava forte, e a janela batia, e através dela os uivos do vento me chamavam, como um sussurro que resvalava dentro do peito, me guiando para o brilho prateado da noite lá fora, e pela janela via um campo de capim cor de bronze que dançava a mercê da brisa tempestuosa, uma orla de altas arvores tinham seus galhos  meio verdes meio ocre e âmbar açoitados pelo vento.
Não sei ao certo quanto tempo fiquei olhando os padrões se desenrolarem no capim, na verdade não sabia á quanto tempo estava ali,  aquele lugar desolado e sombrio, parecia sugar o que restava de conciencia, mas em algum momento, passos que vinham pela porta me despertaram novamente, passos leves e suaves, quase imperceptíveis, a não ser pelo ranger das taboas do piso e o estalar dos pregos enquanto o caminhar continuava, tornando-se mais altos, mas próximos, mais reais, e meu coração martelava, a cada passo que ouvia, pois aqui o tempo não passava, aqui não havia nada e por aquele segundo apenas vi das sombras surgir o reflexo de sonhos perdidos e desesperados.
A porta se abriu, uma mulher estava do outro lado do portal, seu rosto encoberto pelas sombras com longos cachos cascateando por sobre os ombros, olhos de um castanho esverdeado que faiscavam, captavam e refletiam milhões de vezes a luz prateada da lua, era a única coisa que via no breu. Não fazia idéia de que era ela, mas já há vi antes, seus olhos ao menos, tinha certeza de ser invisível, eu não estava ali, não podia estar, e essa certeza  fez como que meus olhos se fixassem nos dela, um longo segundo se passou, um segundo que pareceu se arrastar docemente enquanto a encarava,  buscava registrar cada detalhe que a envolvia, um vestido longo que se perdia na semi escuridão, cobria dês de o colo aos pés, mangas longas ate os punhos cobriam seus braços, a garota , quem quer que fosse, deu um passo me trazendo de volta do exame detalhado, aos poucos a certeza de que ela não me via se esvaia, os olhos de matizes castanho esverdeados queimavam meu rosto,olhando para mim, ela me via,e mesmo o som do vento que uivava na noite desapareceu abafado pelas batidas que enchiam meu peito..
Durante todo o tempo que estive aqui senti como se não existisse, não havia nada, nem a menor sensação, tudo era escuro e vazio, como se eu mesmo não passasse de uma sombra um eco, talvez uma recordação, mas naquele momento o vazio o vácuo foi preenchido com  os matizes da aurora, naqueles olhos... que me viam, seus dedos se entrelaçaram nos meus, antes mesmo que pudesse reagir, trazendo-me a consciência de meu próprio corpo, seu calor afastando o frio que  os tornará dormente, morto, e seu aperto fechou-se em minha mão como se fosse sua segurança, como se precisasse ter certeza de que não estava só, e seu toque me despertou dos devaneios e da incerteza.
Seu peito subia e descia, me fazendo tomar consciência agora de seu próprio corpo, e o senti se aproximando cada vez mais do meu, seu rosto estava baixo escondendo de mim seus olhos, contra meu peito, e quando senti seu toque foi como se precisasse sentir as batidas do meu coração, sua respiração de encontro a uma fina camisa que usava, e seus olhos tomaram os meus, uma mistura quase mística de cores, uma profusão de  castanho, âmbar e verde luminoso, seu nariz afilado e pequeno, frágil, as maçãs do rosto e os lábios finos que se curvaram num sorriso doce que tinha como moldura longos cachos castanhos dourados que caiam sobre os ombros e desciam pelas costas .
A mão livre, fez o caminho da minha cintura subindo pelo meu peito temerosa, assustada, desconfiada ate se firmar em meu ombro, eu... eu não suportei, a envolvi em meu abraço, e fui correspondido quando seus braços se fecharam em torno de meu pescoço,  se segurando com se sua vida dependesse disso.
Seus lábios alcançaram os meus num beijo terno, cálido e detido, senti seu peito subir e descer de encontro ao meu, e o que era terno tornou-se ávido, o que era cálido tornou-se desesperado e o que era detido, livre, seus braços apertando-nos como se pudéssemos fundir-nos, uma carne, uma alma.


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